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“Não nos vão ver fazer obras para eleições” – Vitor Marques, presidente da Câmara das Caldas
Vitor Marques foi entrevistado pela Rádio Mais Oeste e pelo Jornal das Caldas, dando conta dos primeiros dias como presidente da Câmara das Caldas da Rainha.
Rádio Mais Oeste/Jornal das Caldas: Como é mudar da cadeira de presidente de junta para a cadeira de presidente da Câmara?
Vitor Marques: São desafios diferentes, mas sabia ao que ia quando me candidatei. Claro que não tinha a experiência deste ato de governação ao nível do município e estou numa fase inicial, que tem sido muito intensa, pela necessidade de absorver a informação e os dossiês, e ao mesmo tempo fazer com que a Câmara não deixe de funcionar.
RMO/JC: O Vamos Mudar assinou um memorando de entendimento com o PS para a governação na Câmara. É uma delegação de competências no vereador socialista?
VM: Querer dialogar com todos foi algo que defendi desde o primeiro dia que me candidatei. É uma forma aberta de fazer a governação. Após as eleições conversei com o PSD e o PS, inclusive com os outros quatro candidatos que não têm mandatos nem na Assembleia nem na Câmara. Vi se havia alguma abertura para assumirem a governação connosco. Foi intenção do PSD assumir a oposição, o que respeitamos. Do PS houve abertura para pontos de convergência, embora em todas as candidaturas existam. Se calhar 70% das propostas são muito idênticas.
Da parte do PS não manifestaram interesse em pelouros e não foi alvo de discussão sequer.
RMO/JC: Em questões de fundo o PS disse que pode divergir…
VM: Houve dois ou três temas, que não apresento, com os quais não chegámos a entendimento com o PS. Às vezes as estratégias de colocar em prática é que são diferentes. Mas vamos conversar com todos, mesmo com quem não tem representação, com alguma regularidade, mês a mês ou de dois em dois meses.
RMO/JC: Conta assim ter menos oposição?
VM: O objetivo fulcral não é esse. Pode ser uma consequência, porque a nossa forma de estar é dialogante, de querer contar com todos. Se isso nos vai trazer mais facilidade de governação, porque haverá menos problemas, estamos a trabalhar em prol do nosso concelho. Mas na Assembleia Municipal, o PSD, com os presidentes de junta e os elementos eleitos, também tem uma maioria, e isso não me assusta, preocupa ou atrapalha, porque acredito que vamos ter todos a capacidade de apresentar as melhores soluções, inclusive o PSD.
RMO/JC:Mas também pode significar que vamos ter um PSD mais feroz na oposição?
VM: Espero que cada um faça o seu papel. O PS também vai fazer oposição, apesar de termos entendimento.
RMO/JC:A CDU disse em comunicado, que antevê dificuldades em consensos. Como analisa essa afirmação?
VM: Da minha parte não estou ansioso. Vamos conseguir ultrapassar isso. Em conversas com os candidatos, foi o António Barros (da CDU) quem mostrou alguma perplexidade porque estávamos a falar daquela forma, porque nem precisávamos, entre aspas, mas não sei o que querem dizer.
Vamos trabalhar no sentido de envolver todos e tornar as medidas o mais consensual possível. Às vezes o insucesso de uns é o sucesso de outros, mas não quero acreditar que alguém queira o insucesso da Câmara, porque o insucesso do Vamos Mudar seria o insucesso do município.
RMO/JC: Em relação ao PS, uma das divergências tem a ver com a fusão das associações que gerem espaços municipais (CCC, Expoeste e Centro da Juventude), algo que ficou por cumprir em mais de uma deliberação da Assembleia. Como presidente da junta alinhou por um lado e como presidente da Câmara como vai alinhar?
VM: A nossa posição não é fechada, nem sequer ainda discutida com intensidade no seio do Vamos Mudar e queremos discutir com todos. Fui na altura partidário da fusão das diversas associações, para ganhar escala. Mas não deve ser juntar as três e fazer uma. A ADIO (que gere a Expoeste) pode ser integrada pela AIRO, que pode gerir Expoeste. Acho que é o caminho para fazer a gestão daquele equipamento. A ADJ (que gere o Centro da Juventude) deve fazer exclusivamente serviços de juventude e se conseguirmos integrar os serviços da ADJ na Câmara não vejo mal. A ideia não é extinguir a CulturCaldas (que gere o CCC), vocacionada para os espetáculos.
Em todos os casos temos de salvaguardar os trabalhadores dessas associações.
RMO/JC: A importância desta fusão tem a ver com as dívidas das associações…
VM: Houve um processo conversado com o anterior presidente da Câmara e a direção da ADIO, que era quem tinha mais dificuldades financeiras, e conseguiu-se estabelecer um plano para regularizar todas as dívidas. No dia das eleições a ADIO não tinha dívidas. Chegou a ser de 400 mil. O CCC e a ADJ também ficam sem dívidas, mesmo que haja resultados negativos.
RMO/JC: As obras do Centro da Juventude estão atrasadas…
VM: O empreiteiro do Centro da Juventude faliu e está a ser aberto um novo concurso. Muitos empreiteiros assumiram compromissos a contar com determinados custos em matérias-primas e serviços e hoje tudo aumentou exageradamente e ficam sem capacidade para acabar as obras.
RMO/JC: E vão aceitar empreiteiros com várias obras em curso que depois não as conseguem finalizar?
VM: São concursos públicos. É importante que as obras sejam mais fiscalizadas e quando os compromissos contratualizados não são feitos devem ser penalizados. Se isso acontecer prevejo que haja menos erros. Se deixamos um carro num estacionamento proibido todos os dias e não formos multados vamos continuar a deixar lá o carro. Se formos multados ponderamos duas vezes. A penalização pode levar as coisas tomem o seu rumo.
Também não nos vão ver fazer obras para eleições. Há uma tendência dos partidos para fazerem isso. Não queremos ir por aí.
RMO/JC: A ciclovia aberta dias antes das eleições é um exemplo?
VM: Houve pressa em fazer.
RMO/JC: Como encontrou as contas da Câmara?
VM: A saúde financeira da Câmara é boa e aconselha-se. O endividamento não chega a quatro milhões quando legalmente até podia atingir 40 milhões Houve um rigor muito grande.
Queremos entretanto que os subsídios e apoios que se dão sejam mais objetivos e mais claros. Queremos fazer uma regulamentação a partir do início do próximo ano.
Estamos a trabalhar também para revisão do Plano Diretor Municipal. É um processo que se arrasta há dez anos e é tempo em demasia.
Francisco Gomes
9 Novembro 2021
Fonte: “Não nos vão ver fazer obras para eleições” – Jornal das Caldas